Coronavírus e impactos nas comunidades indígenas no Brasil
Com a chegada do coronavírus ao Brasil e a dificuldade do acesso a redes hospitalares de saúde, a saúde da população indígena é apontada por médicos como um desastre, uma vez que esses povos apresentam a imunidade mais baixa entre os brasileiros. Doenças respiratórias já são a principal causa de morte entre as populações nativas brasileiras, o que torna a pandemia atual especialmente perigosa para esses grupos. A grande incompetência, descaso e a falta de ações e medidas dos governos anteriores bem como o atual, põe em risco hoje a vida de milhares de índios que nem se quer saíram de suas aldeias e provavelmente contraíram a doença por visitantes, médicos e pesquisadores (claro que não em todos os casos).

Médico cubano atende indígena no Amazonas: especialistas defendem saúde pública no interior (Foto: Ministério da Saúde). Fonte: https://amazonasatual.com.br/especialistas-defendem-presenca-maior-de-medicos-no-interior-do-pais/
A primeira morte de indígena registrada no país foi em 19 de março no oeste do Pará. A anciã Lusia dos Santos Lobato, de 87 anos, do povo Borari, faleceu em 19 de março, em Santarém. Por não morar em aldeia reconhecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e não ter cobertura do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), sua morte não consta na estatística da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, o que representa uma subnotificação.
O antropólogo Márcio Meira, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e pesquisador do Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA), diz que o principal motivo para o descontrole no combate ao avanço do novo coronavírus na população indígena “é a incapacidade, a incompetência do governo federal de agir. Porque a saúde indígena é majoritariamente de responsabilidade do governo federal”.
Erik Jennings, neurocirurgião e coordenador da residência médica em neurocirurgia do Hospital Regional do Baixo Amazonas da Universidade do Estado do Pará, em Santarém, avalia que “esse trânsito, de estar muito dependente dos hospitais sede, é um desastre para a população indígena”.
“Estava escrito que isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. Não se conseguiu fazer o isolamento das áreas como seria o indicado”, afirma o médico sanitarista Douglas Rodrigues sobre o aumento dos casos da doença entre os indígenas. Ele é do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e trabalha com populações indígenas da Amazônia há mais de 50 anos.
"Há um risco incrível de o vírus se alastrar pelas comunidades e provocar um genocídio", diz a médica sanitarista Sofia Mendonça, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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Indígena recebeu alta após ser diagnosticada com coronavírus no interior do Ceará — Foto: Reprodução SVM. Fonte:https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/04/25/primeira-indigena-cearense-diagnosticada-com-covid-19-recebe-alta-medica-em-crateus.ghtml
O primeiro caso confirmado de Covid-19 em povos indígenas foi notificado em 1º de abril pela Sesai, no Amazonas. Uma jovem de 20 anos foi contaminada por um médico do Distrito Sanitário Indígena (Dsei) Alto Solimões, no município de Santo Antônio do Içá (a 878 quilômetros de Manaus), iniciando a transmissão entre os povos Kokama, até o momento os indígenas mais afetados pela pandemia na Amazônia. Isso mostra outro problema, as vezes as comunidades estão isoladas e os médicos que vão ajudá-los acabam por disseminar a doença entre eles.
As reportagens abaixo da Amazônia Real trazem com mais clareza e detalhes essa situação, que aliás é um ótimo site referência sobre comunidades indígenas na atualidade, economia, meio ambiente, política e cultura, trazendo notícias completas feitas com profissionais renomados e reconhecidos, acesse: https://amazoniareal.com.br/
Vale do Javari, no Amazonas, vive dias de apreensão com chegada da covid-19 e aumento de invasões: https://amazoniareal.com.br/vale-do-javari-no-amazonas-vive-dias-de-apreensao-com-chegada-da-covid-19-e-aumento-de-invasoes/
São Gabriel da Cachoeira é o sexto município com mais casos de covid-19 no Amazonas: https://amazoniareal.com.br/sao-gabriel-da-cachoeira-e-o-sexto-municipio-com-mais-casos-de-covid-19-no-amazonas/
Coronavírus: como um protesto de três mulheres indígenas mudou o atendimento de saúde no parque das tribos: https://amazoniareal.com.br/coronavirus-como-um-protesto-de-tres-mulheres-indigenas-mudou-o-atendimento-de-saude-no-parque-das-tribos/
Líder do território maraiwatsede relata dor e desespero sobre a morte do neto pela covid-19, no Mato Grosso: https://amazoniareal.com.br/lider-do-territorio-maraiwatsede-relata-dor-e-desespero-sobre-a-morte-do-neto-pela-covid-19-no-mato-grosso/
Indígenas Fulni-ô, resistentes a seca do sertão, pedem socorro na pandemia do coronavírus: https://amazoniareal.com.br/indigenas-fulni-o-resistentes-a-seca-do-sertao-pedem-socorro-na-pandemia-do-coronavirus/
Avanço do novo coronavírus na população indígena é um desastre: https://amazoniareal.com.br/avanco-do-novo-coronavirus-na-populacao-indigena-e-um-desastre/
Coronavírus pode dizimar comunidades indígenas diz pesquisadora: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52030530
Ações do Ministério da Saúde para o combate a covid-19 em comunidades indígenas
Agora recentemente, 2 meses e meio após a primeira morte indígena por coronavírus, o ministério da saúde inaugura a primeira ala hospitalar exclusivamente para tratamento de indígenas com covid-19 no amazonas. O serviço contará com 53 leitos, sendo 33 clínicos, 15 de UTI e 5 leitos de cuidado intermediário.

Foto: Divulgação / ASCOM MS
O Ministério da Saúde informou que desde janeiro deste ano, vem implementando diversas ações de informação, prevenção e combate ao Coronavírus (COVID-19) para orientar as comunidades indígenas, gestores e colaboradores em todo o Brasil. Com a atual expectativa do crescimento de infecções pelo COVID-19 no Brasil, os esforços do Ministério da Saúde, por meio da SESAI, juntamente com os 34 Distritos Sanitários Especiais (DSEI), têm se redobrado para garantir a saúde dos povos indígenas.
Além disso, informa que a detecção e correção de possíveis problemas e a realização de novas ações, baseadas nos protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para o combate ao Coronavírus, respeitando as especificidades dos povos indígenas, têm sido frequentes. O Governo Federal permanece trabalhando para atender aos mais de 800 mil indígenas aldeados e presentes em todo o país.
Para isso, vem orientando atenção máxima às equipes multidisciplinares de saúde indígena e demais profissionais que atuam para o cumprimento do Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo Coronavírus em povos indígenas.
Para mais acesse: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46986-governo-do-brasil-garante-atendimento-de-saude-a-indigenas-brasileiros
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