Indianismo em letras da MPB


No Romantismo, a evasão no espaço leva o autor a buscar lugares exóticos, distantes da civilização. A evasão do tempo, no Romantismo retoma o heroísmo idealizado da cavalaria medieval. Essa idealização, adapta-se ao contexto da realidade histórica brasileira, com os romances indianistas de José de Alencar, e os poemas indianistas de Gonçalves Dias. O nativismo ufanista também é visível na representação da natureza, já que para os autores  ela liga-se ao país do escritor.

A liberdade criadora, a cor do local, a inspiração em si são características do Romantismo, diluídas nas letras da Mpb. A exaltação nacionalista no Romantismo, quer seja louvando a exuberância da natureza, quer seja idealizando os povos formadores do brasileiro, é extremamente retomada no samba exaltação como Aquarela do Brasil de Ari Barroso.

Essa relação ufanista entre o Romantismo e as letras da Mpb, podem ser comprovadas, por exemplo neste fragmento de Iracema e nos versos de Índia (Flores, Guerreiro e Fortuna).
"Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado." (p.14)
Ao comparar o excerto de Iracema com os versos de Índia, percebe-se a exaltação nativista da típica representante do padrão de beleza americana:
"Índia, seu cabelos nos ombros caídos,
Negros como a noite que não tem luar,
Seus lábios de rosa para mim sorrindo 
e a doce meiguice desse seu olhar." 

Escute a música Índia completa no vídeo abaixo:


ufanismo romântico, neste excerto de O Guarani, de José de Alencar, encontra ressonância nos versos de Aquarela do Brasil, de Ari Barroso.
"A vegetação, nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor, florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos em que o homem é apenas um simples comparsa." (p.11)
"Brasil/ meu Brasil brasileiro/ meu mulato inzoneiro/ vou cantar-te em meus versos/(...) Oh! Oi essas fontes murmurantes/ Oi onde eu mato a minha sede/ e onde a lua vem brincar/ oh esse Brasil, lindo e trigueiro, / És meu Brasil brasileiro/." (Ari Barroso)

 Aproveite e escute a música Aquarela do Brasil na versão da Gal Costa, no vídeo abaixo:



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