Representações Índigenas (séc XIX - séc XXI). O que mudou?

As representações dos povos indígenas no século XIX nas obras indianistas caracterizaram estes com alusões europeias. Peri, índio do livro "O Guarani"em sua primeira aparição se encontra com uma veste de algodão, algo totalmente fora de contexto em pleno pré Brasil Colônia. As características de heroísmo, força e bravura são hiperbólicas e exageradas, colocando a imagem do índio em um pedestal romantizado e impossível.

Esta visão propagada pelos livros do escritor José de Alencar, de alguma maneira, ainda sim, rompia com a visão predominante da época, onde os indígenas eram vistos como barbáries sem qualquer tipo de capacidade intelectual e até mesmo civilizatória. Mesmo os livros do Alencar ainda estarem longe de serem fiéis a realidade e toda pluralidade dos povos indígenas, ele os colocou como personagens de protagonismo e que possuem relevância na história e na construção na nação Brasil, com certas ressalvas já mencionadas no post sobre os "Índios No Romantismo".

E como essa imagem do indígena se encontra em nossa sociedade atualmente?

O que é ser indígena no século XXI. EP⋅1 - YouTube
Foto retirada do vídeo: Deixamos de ser indígenas? Canal Wariu

Bem, hoje em dia, podemos perceber a importância das grandes mídias e plataformas de comunicação na propagação de imagens e estereótipos.  E a mídia, como regra geral, prefere folclorizar a figura do índio. Em pleno século XXI, jornais ainda estranham o fato de índios usarem iPhone, como se isso fosse algo inusitado. Desta forma, congelam as culturas indígenas e reforçam o pensamentos que os povos indígenas devem estar isolados e até mesmo atrasados em relação ao restante do mundo. 

 Com a percepção de que essas culturas não podem mudar, pois senão deixarão de serem “autênticas”, ocorre uma nova categorização, a do "ex índio". Este é descrito como aquele índio que não se comporta da maneira esperada, que usufrui das tecnologias, frequenta uma universidade, dentre outros. Esta categorização é irreal e muito preconceituosa. O escritor mexicano Octávio Paz, escreveu com muita propriedade que “as civilizações não são fortalezas, mas encruzilhadas”. Ninguém vive isolado, fechado entre muros. Historicamente, os povos em contato se influenciam mutuamente no campo da arte, da técnica, da ciência, da língua e portanto o contato dos indígenas com essas tecnologias e avanços é uma direito e pode vir a ser um enriquecimento para seus povos.

O antropólogo Darell Posey, que trabalhou com os Kayapó, escreveu: “Se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. "

Desde os primeiros escritos indianistas muitas coisas mudaram, mas a percepção do indígena como inferior, infelizmente, ainda permanece na mente de muitas pessoas. Portanto, está mais do que na hora de pararmos de propagar visões e estereótipos dos povos indígenas que são incompletos e irreais, e começarmos a ouvir estes povos com seriedade e respeito.



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